Na prática,o devedor recebe uma intimação do cartório para pagar as parcelas em aberto, encargos, multas, juros, taxas de cobrança e honorários, tudo em 15 dias e em única parcela, sob pena de perder o imóvel.
Do InfoMoney
Por Marcelo Tapai
Com o desemprego em alta e a crise econômica pela qual passa
o país, muitos compradores de imóveis financiados estão inadimplentes e, com
isso, correm o risco de perderem seus imóveis.
Isso porque os financiamentos imobiliários têm diversos
tipos de garantia, que normalmente é o próprio imóvel. As duas modalidades mais
comuns são a hipoteca e a alienação fiduciária, e a diferença entre ambas é
bastante significativa. Enquanto que na garantia hipotecária o imóvel é daquele
que busca o financiamento – o comprador, na alienação fiduciária o imóvel
pertence à instituição financeira, ficando o comprador apenas com a posse.
O instituto da alienação fiduciária é relativamente novo,
foi criado em 1997 com o objetivo de dar maior garantia às instituições
financeiras e, com isso, uma maior liberação de crédito para o financiamento de
imóveis. Se por um lado as garantias para os bancos e financeiras são muito
boas, por outro, o risco do comprador de imóvel por meio de financiamento
aumenta muito e qualquer contratempo que ocorra com o comprador pode significar
a perda do imóvel.
Enquanto na garantia hipotecária é necessária uma ação
judicial para a formalização da dívida e criação do título executivo, na
alienação dispensa-se qualquer processo judicial. Tudo é feito de forma
extrajudicial, em curtíssimo espaço de tempo e sem defesa para o devedor.
A lei que trata da alienação prevê que a pessoa que não
pagar três parcelas mensais, em média, será notificada por via extrajudicial
para pagamento da dívida em 15 dias, sob pena da perda do imóvel. Ato contínuo,
o imóvel deverá ir a leilão em 30 dias e poderá ser vendido até pelo valor da
dívida ou, em outras palavras, poderá haver a perda de todos os pagamentos
feitos pelo comprador.
A grande diferença nessa modalidade de garantia é a
autonomia de a instituição financeira retomar o imóvel e leiloá-lo em curto
espaço de tempo, sem a necessidade de nenhuma ação judicial. O que ocorre na
prática é que o devedor recebe uma intimação do cartório para pagar as parcelas
em aberto, encargos, multas, juros, taxas de cobrança e honorários, tudo em 15
dias e em única parcela, sob pena de perder o imóvel.
O devedor, sem
dinheiro para fazer o pagamento total e imaginando que a referida notificação é
apenas uma cobrança, na qual teria condições de negociar com o credor o
pagamento da dívida, deixa passar o prazo de 15 dias e, com isso, o banco
consolida a propriedade em seu favor, perdendo o comprador qualquer direito
sobre o imóvel que será leiloado.
Parece evidente que os compradores não deixam de pagar as
parcelas por opção, mas por dificuldades que estão enfrentando e, nesse caso,
precisariam apenas de uma renegociação para voltarem suas contas à normalidade.
Em contratos de financiamento de 15, 20 ou 30 anos, não é razoável que o atraso
de três parcelas encerre a parceria entre as partes e decrete a derrocada do
comprador.
Existem casos nos quais o devedor teve contratempos
momentâneos, como desemprego, atraso em recebimentos, está vendendo um bem para
realizar o pagamento, e outras tantas situações passageiras, mas em regra nenhum
argumento é suficiente para impedir a perda do imóvel.
Não raro, clientes que conseguem os recursos depois dos 15
dias concedidos para o pagamento são impedidos de realizar a quitação da
dívida. As instituições financeiras, agindo de má-fé, preferem leiloar o imóvel
do que receber os valores em aberto, mesmo porque isso lhes é muito mais
vantajoso e gera grandes lucros.
Em casos como esses, nos quais o comprador tem o dinheiro
para pagar as parcelas em aberto e não conseguiu fazer isso dentro do prazo de
15 dias, pode, caso a instituição financeira recuse o recebimento, realizar o
pagamento por meio de ação judicial e evitar a perda do bem.
Outra hipótese é quando o devedor possui recursos no FGTS,
mas o banco nega o recebimento por meio desses recursos. Independentemente do
número de parcelas em aberto, desde que o imóvel se enquadre nos limites do
SFH, o comprador pode quitar a dívida com recursos do FGTS. Não é incomum que
instituições financeiras neguem o recebimento, mas também nesses casos a ação
judicial é o meio adequado para resolver o problema.
Importante lembrar que qualquer negociação ou mesmo ação
judicial só terá valia antes do leilão do bem, razão pela qual pessoas que
enfrentam esse problema precisam buscar a solução com urgência, sob pena de
perder o imóvel.