DO COFECI- A sociedade brasileira, no início do século XX, ainda era
estratificada, a posição social era determinada pela propriedade
fundiária, a maior parte da população vivia na zona rural. Ainda era
inexpressiva a classe média ou de industriais, já que a economia
brasileira era caracterizada como agroexportadora, principalmente de
café. Surge a pequena burguesia, ligada ao funcionalismo público e às
atividades especulativas financeiras. O desenvolvimento das cidades faz
com que a comercialização de imóveis, por intermédio dos anúncios em
jornal, se tornasse constante, passando a existir como forma de vida,
como profissão.
O Corretor de Imóveis nessa época era conhecido como agente
imobiliário. Como não existiam cursos de formação relativos à area, a
escola da vida acabou formando os primeiros profissionais, que passaram a
viver exclusivamente da intermediação imobiliária.
A Escola da Vida
Um exemplo do surgimento dos profissionais é o relato de Daniel
Bicudo, irmão de Argemiro Bicudo, publicado no jornal A Tribuna, em 12
de fevereiro de 1971. O Corretor e empresário Argemiro Bicudo participou
da fundação da primeira associação da categoria. Esta história
representa a de muitos outros Corretores, que deixaram sua cidade natal e
foram para os grandes centros, descobrindo no mercado imobiliário sua
verdadeira vocação.
"Indo de Santos para São Paulo por volta de 1910, onde se fixaria com
a pequena experiência adquirida e com a grande decisão de trabalhar
sozinho e livre, Argemiro se aventuraria como AGENTE AVULSO DE NEGÓCIOS,
sem a necessidade de escritório e apenas munido de cartões de endereço,
caderninho de apontamento e lápis Faber.
O jornal era um elemento produtor de negócios, único possível naquele
meio desconhecido. Na época, o mais lido era o Diário Popular, e
Argemiro se fez leitor atento dos "anuncinhos" de letra, recortando
alguns, de oferta e procura imobiliária, a fim de iniciar os contatos.
Através deles, passou a ter negócios para oferecer mediante publicidade
modesta. Em cinco linhas de letrinha 'mosquito', a oferta, seu nome
Argemiro somente, em 'caixa alta', e a indicação telefônica do
negociante vizinho à sua moradia, no Brás.
Foi o ponto de partida para a ascensão de sua atividade. Se
estabeleceu na rua Onze de Agosto, próximo dos escritórios de
acreditados corretores naquele tempo, tais como: H. S. Cauby, Leven
Vampré, Adelino Alves, Hugo de Abreu, Floriano de Toledo. O Largo do
Café era o centro eleito pelos endereços desses escritórios, formando
uma bolsa imobiliária, que estendia-se pelas imediações.
O escritório de Argemiro deixou a rua Onze de Agosto, para a Benjamim
Constant, quase Praça de Sé. Para o novo endereço (Edifício Gaseau - na
rua Benjamim Constant n.º 9 - 2º andar), levou a orientação idêntica e
exclusiva de Corretor de Imóveis e começou a mostrar-se a fase mais
expressiva do corretor. Traçou e vendeu terrenos à prestação e a prazo
longo; ao mesmo tempo intermediava empréstimos para construir, fornecia
plantas para casa econômicas e transmitia entusiasmo. Em tais casos, era
difícil ser apenas intermediário e Argemiro foi se tornando, por força
do ofício, também proprietário de imóveis".
O Corretor Nordestino
A figura do Corretor de Imóveis na Paraíba surge mais efetivamente a
partir do início deste século. Mesmo sem a denominação de Corretor ou de
vendedor de imóveis, alguns profissionais, exercendo paralelamente
outras atividades, passaram a se notabilizar como intermediadores de
negócios imobiliários na capital - João Pessoa. A conquista da clientela
nesse tempo se dava pela perseverança: quanto mais tempo se tinha na
função, mais se era conhecido como um mediador de negócios imobiliários.
A pouca concentração populacional também favorecia essa forma indireta
de propaganda e, quando aparecia alguém interessado em comercializar um
imóvel, rapidamente um dedo indicador apontava o local onde
provavelmente o "Corretor" poderia ser encontrado.
Há registros de anúncios de imóveis já nas primeiras edições do
jornal A União (diário que circula até hoje e que foi fundado em 1893),
mas não há dados que permitam a vinculação desses anúncios, àquela
época, aos profissionais do setor. Os anúncios normalmente eram
promovidos pelos interessados diretos do negócio.
Da esquerda para a direita: Orlando Feitosa, Amiraldo, Newton Feitosa e Roberto M. Cunha Lima
Orlando Feitosa, que figura entre os Corretores vivos como o mais
antigo, aposentado e de Creci n.º 006, conta que o seu pai, João de
Freitas Feitosa (1895-1962), no início dos anos 20, começou a
desenvolver várias atividades no comércio, inclusive a de intermediador
de negócios imobiliários. Segundo Orlando, seu pai, junto com um
contínuo do jornal A União, conhecido por Antônio, e um outro senhor de
nome Vicente Costa, eram, àquela época, os Corretores que se destacavam
na capital paraibana. Pelo trabalho que desenvolviam, eram normalmente
remunerados com dois por cento do valor total do negócio. "Naquele tempo
não havia nenhuma lei que obrigasse o vendedor ou comprador a pagar a
comissão, no entanto havia o instituto da palavra que, na maioria dos
casos, valia mais que qualquer assinatura", afirma Orlando. "Não lembro
de que meu pai tenha ficado uma vez sequer sem receber pelo serviço que
prestara. Se aconteceu ele não me contou", completa.
Orlando Feitosa vendeu o seu primeiro imóvel em 1934 e desde então,
até a sua aposentadoria, mesmo quando exercia outras atividades, não
deixou de atuar como Corretor de Imóveis. Orlando foi também, entre os
paraibanos, o primeiro a demonstrar espírito classista, vindo a somar,
mais tarde, com Ivenaldo da Silva de Figueiredo Carvalho e Hermogenes
Paulino do Bomfim (Bomfim), nas lutas pela regularização da profissão na
Paraíba.
A Formação das Cidades e o Corretor de Imóveis
É no âmago do surto da urbanização da última década do século XIX,
quando a capital do Estado de São Paulo se torna o local para onde
afluem quase 200 mil pessoas, principalmente imigrantes italianos, que
são construídas as primeiras vilas (espécie de bairros), inclusive
aquelas destinadas aos operários. São Paulo cresce 168% entre 1890 e
1900 e 141% entre 1900 e 1920, o que no mínimo provocou uma grande
demanda por habitações. É nessa época que começam a surgir os primeiros
Corretores de Imóveis, assim denominados profissionalmente, nas capitais
ou grandes conglomerados urbanos.
O modelo agroexportador da economia brasileira predominou,
progressivamente, até 1920, passando a expansão capitalista a ser
comandada pela indústria. Antes de 1930, embora a rede urbana fosse
bastante pobre e polarizada, as cidades representavam pólos importantes,
sendo a sede do capital comercial. Nelas estavam localizadas empresas
que faziam a ligação entre a produção agrícola e manufaturada com a
circulação internacional de mercadorias. Era também onde havia a
concentração de órgãos e entidades governamentais. A comercialização dos
imóveis e o loteamento de novas áreas, para a criação de bairros, teve
na figura do Corretor de Imóveis seu maior difusor. Graças a estes
profissionais, bairros e até mesmo cidades tiveram seu crescimento
organizado e a área urbana valorizada.
Com o surgimento da fábrica como unidade produtiva, o urbano se
define, ante as exigências de concentração dos meios de produção e da
força de trabalho, num só lugar e, conseqüentemente, passa a exigir
certas condições, tais como: habitação, alimentação, transporte,
energia, assistência à saúde, lazer, comunicações, saneamento em geral
etc. Conhecer todas as características do local passou a constituir um
dos maiores patrimônios dos Corretores. Era baseado nestes aspectos que
muitas vezes a venda de um lote se concretizava e até mesmo a construção
de projetos habitacionais de baixo custo.
O mercado imobiliário passa, então, a ser uma fonte atraente de
investimento. Os investidores se multiplicavam na produção de casa de
aluguel. Profissionais liberais, donos de pequeno comércio ou de
oficinas, industriais, fazendeiros, viúvas herdeiras, todos passaram a
investir na construção de casas para locação. A essas iniciativas
individuais começaram a se juntar outras, na forma de companhias de
capital aberto, que reuniam acionistas a fim de investir na construção
de casas de aluguel, muitas vezes em forma de vilas.
A partir de 1940, registra-se um enorme fluxo de migração nacional,
principalmente para São Paulo, em decorrência das transformações
econômicas que se acentuaram a partir de 1930, com a aceleração da
industrialização, a criação de um mercado de mão-de-obra e a fixação de
salários mínimos regionais. Em 1940, apenas 31% da população brasileira
era urbana. Somente a partir dos anos 70 é que as cidades passam a
responder por dois terços da população do país.
Graças a esse desenvolvimento é que surgiram as primeiras leis
trabalhistas, que integravam um quadro geral de medidas destinadas a
instaurar um novo modelo: o sindical.
A Companhia City
A história da Companhia City começa quando o arquiteto francês J.
Bouvoir chegou à capital do Estado de São Paulo, em 1911, contratado
pela Prefeitura para planejar e construir o alargamento da avenida São
João. De volta à França, Bouvoir resolve constituir uma sociedade
anglo-francesa para investir em São Paulo.
Em 1912, a empresa comprou do município 12 milhões de metros
quadrados de terra e trouxe da Inglaterra um dos maiores urbanistas da
época: Barry Parker. Seu primeiro projeto foi o Jardim América, em 1915.
Parker utilizou nos loteamentos o conceito dos "bairros-jardins", que
reservava uma parte dos terrenos para áreas verdes e incentivava a
arborização das calçadas. Outros bairros loteados pela City, como o
Pacaembu, Alto da Lapa, Alto de Pinheiros e Butantã - todos na Zona
Oeste - até hoje são reconhecidos como modelos de urbanização e
preservação da paisagem urbana integrada à vegetação.
Todos os bairros loteados pela City eram amplamente divulgados pela
imprensa da época, sempre salientando o conforto da família e a fuga dos
aluguéis. Nos anos 50, a Deltec, uma empresa das Bahamas que já atuava
no Brasil desde 1946, adquiriu no mercado acionário londrino o controle
da então Companhia City de Desenvolvimento.
Outros bairros loteados pela City, como o
Pacaembu, Alto da Lapa, Alto de Pinheiros e Butantã - todos na Zona
Oeste - até hoje são reconhecidos como modelos de urbanização e
preservação da paisagem urbana.
Texto original em: http://www.cofeci.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=92:seculo-xx-surge-a-profissao&catid=50
Texto original em: http://www.cofeci.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=92:seculo-xx-surge-a-profissao&catid=50
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